A Última Estrela

por Sammu

 

 


Capítulo 17: Nice SHe Ain't

 

Nesse momento todas tiveram a sensação de que uma espécie de manto de protecção que envolvia a estranha havia sido tirado quando esta pronunciou o seu nome.

Joana cambaleou para trás e todas olharam para Célia com um misto de admiração e choque na cara.

 

Joana foi amparada pelas amigas e ficou com os olhos muito brilhantes, olhando Célia fixamente.

- Célia! Como é possível não a ter reconhecido antes?! – pensou Bunny

- Célia Leça, a estrela de música e do cinema?! ESSA Célia?! – perguntou Rita com os olhos arregalados fazendo muita força no braço de Joana.

- Sim… - respondeu Célia um pouco envergonhada perante a reacção esquisita daquelas duas raparigas.

- CÉLIA EU ADORO-TE! Sou a tua maior fã! – gritou Joana abraçando tornozelo de Célia, fazendo com que esta quase caísse para trás.

- Joana será que podias largar-me um bocadinho…? - tentou falar Célia perante a atitude exagerada de Joana.

- NUNCA te vou deixar! A minha ídolo a minha referência, a minha… - gritou Joana com lágrimas de emoção.

- Olha-me esta! Ainda no outro dia tinha dito que não gostava dela! – sussurrou Maria.

- Como… como é que nós não te conhecemos? – perguntou Rita sem querer, não querendo acreditar que as quatro não tinham reconhecido uma pessoa tão famosa.

- Bem… ,começou Célia tentando libertar-se de Joana, além de eu estar no Japão a falar japonês e estar vestida, digamos, à paisana, pode ter contribuído. – opinou Célia fazendo força contra a cabeça de Joana, que ainda não lhe tinha largado o pé.

- Bunny estás bem? Ainda não disseste nada, não é normal… - perguntou Rita vendo Bunny petreficada.

- CÉLIAAAAAAAAAAAAAA! – gritou Bunny mexendo-se finalmente, juntando-se a Joana nos abraços exagerados. Adoro as tuas músicas! – disse histérica.

- E eu os teus filmes! – ouviu Joana lá em baixo.

- Obrigada, mas por favor lar… - tentou dizer Célia sem fôlego. Devido ao peso das pessoas que tinha a si agarradas tropeçou e caíram as três na grande fonte que se encontrava atrás.

Maria e Rita foram rapidamente socorrê-las. Bunny estava toda molhada e despenteada e o longo cabelo de Célia, agora molhado, tapava-lhe a cara. Joana caiu por de baixo do repuxo, fazendo com que um fio de água lhe caísse na cabeça. Rita e Maria ajudaram-nas a sair da fonte, enquanto que Célia ficou lá sentada com os olhos arregalados. Ficaram com receio, visto que a rapariga estava com uma expressão séria na cara.

Maria dirigiu-se a ela.

- Hã… - disse coçando a cabeça. Sabe, a Joana e a Bunny não fazem por mal mas não conseguem evitar. Há uns tempos tivemos três amigos famosos que faziam parte de uma banda e olhe, nem sabe a confusão que foi...

Célia abaixou a cara e não se mexeu. O que acabaram de fazer poderia resultar num processo em tribunal, atentado contra a integridade física. E ainda por cima a uma celebridade. Bunny já se estava a imaginar diante de um juiz velho com a cara enrugada.

- Ahahahahahaah! – riu-se Célia alto, saindo da fonte e torcendo o cabelo. Ah, só Deus sabe quanto eu me estava a precisar de divertir! Trata-me por tu Maria! Caminhou até Joana e Bunny e colocou os braços sobre os seus ombros. Venham, entrem entrem!

Todas suspiraram de alívio e riram-se dos seus próprios pensamentos, enquanto se dirigiam encharcadas para a entrada do casarão.

A entrada dava para um vestíbulo, que por sua vez dava para uma ampla sala, que estava decorada de uma maneira moderna e acolhedora ao mesmo tempo.

- Venham até ao meu quarto, tenho lá roupas. Secas! – anunciou ainda divertida.

- Estamos a ir ao quarto da Célia! – cochicharam Bunny e Joana, muito excitadas como pequenas crianças.

Subiram a escadaria curva. O quarto tinha uma grande janela de vidro voltada para o outro lado do jardim, que continha uma grande piscina. A tapar a janela encontravam-se cortinas beges semi-transparentes. No meio do quarto estava uma grande cama com um edredão com luas e estrelas douradas.

- Estão aqui. – disse Célia abrindo a porta do guarda-roupa embutido. Lá dentro encontrava-se uma pequena divisão cheia de roupa. Escolham!

Joana e Bunny, que tinham a roupa molhada e Rita, que tinha a roupa suja de molho, atacaram a colecção de Célia sem hesitação.

- Se soubesse também tinha caído na fonte…  - pensou Maria alto, tapando a boca de seguida, não querendo acreditar que tinha deixado escapar aquele comentário.

Célia riu-se.

- Mas é claro que a oferta se estende a todas!

- Não podemos aceitar. – disse Rita pensando melhor. Tens aqui roupas caríssimas! – disse escandalizada segurando um Xanele.

- Meninas, se eu vos ofereci é porque não há problema. Não passam de bens materiais. A maior parte do que está aí eu nem uso… Prefiro coisas mais normais por assim dizer. – disse muito segura.

- Já que insistes…! – atacou novamente Joana, começando a mexer freneticamente nas roupas.

- E entretanto vou preparar-vos um lanchinho, visto que não chegaram a comer os hot dogs! – disse-lhes dirigindo-se ao piso de baixo.

- Muito obrigada! – exclamou Bunny já imaginando o lanche das celebridades.

Uma hora depois Célia bateu à porta do quarto.

- Então, tudo bem? Já escolhe… - surpreendeu-se Célia ao ver o seu quarto cheio de roupas espalhadas.

Rita, Maria e Bunny envergavam umas roupas novas de Verão que lhes assentava muito bem.

- Já sim! Menos a Joana… - suspirou Maria que apontava para Joana, que ainda vestia roupa e olhava-se ao espelho.

- Estas calças fazem-me ficar com o rabo muito grande… - disse sem se dar conta. Todas se desmancharam a rir.

- Por acaso, comentou Célia, essas foram as calças que usei no videoclip da canção Viutiful Liar com a Vioncé.

- Eu ADORO essa música! – exclamou Rita com os olhos a brilhar.

- Ainda bem! Também é uma das minhas favoritas! – sorriu-lhe Célia. O lanche já está pronto à algum tempo, vamos comer?

Dirigiram-se à sala. Na mesa central encontravam-se bolos, tostas mistas, salgadinhos, rissóis, leite, cereais, fruta, sumo natural, chá, bolachas, pão, fiambre, queijo, salpicão, mortadela, batatas fritas, bombons e chocolates.

- Uau! – desta vez foi Bunny que ficou com os olhos a brilhar. Comeram alegremente e foram conversando. Mas então, o que fazes aqui no Japão? E a falar japonês? – perguntou comendo ao mesmo tempo uma barra de chocolate com amêndoas.

- Bem, como devem saber o Japão é o sítio onde eu vou dar o último concerto da minha digressão mundial “Visual Crystal Fixaxion”. – esclareceu Célia com as pernas cruzadas bebendo uma chávena de chá.

- Ah sim! Já vimos os posters por aí. Mas ainda falta imenso tempo não é verdade? – perguntou Joana tentando imitar desajeitadamente a pose elegante de Célia.

- Sim é verdade, mas tenho trabalhado tanto ultimamente que precisava de um descanso. E que melhor descanso senão nos subúrbios da capital do país do sol nascente não é verdade? – perguntou sorrindo retoricamente. Quanto ao falar japonês… - assumiu um tom mais sério. Quando era pequena, numa das visitas reais vim ao Japão e gostei muito da língua. E como princesa ensinaram-me várias línguas, entre elas o francês, espanhol, italiano, português, japonês e claro, a minha língua materna, o inglês. Houve três das quais eu gostei muito, o italiano, japonês e português. Então apliquei-me ao máximo nessas.

 

No centro da parede da sala encontrava-se um enorme quadro com uma pintura de uma família. O homem, de aspecto austero, envergava uma coroa. Ao seu lado estava uma mulher morena de cabelo apanhado, com pequenos olhos azuis de aspecto simpático. No meio dos dois encontrava-se uma menina com os seus oito anos com o cabelo verde ondulado de aspecto traquinas. Os seus olhos tinham um aspecto triste. Na parte inferior do quadro encontrava-se a frase adornada: “The Royal English Family, blessed by God, our lord.

- Tu és a… Aquela princesa de que a televisão falava há um tempo atrás?* – perguntou Bunny embasbacada enquanto pegava agora numa caixa de bombons.

- A ex-princesa herdeira do trono britânico. – disse Célia muito naturalmente.

- Ex? – perguntou Maria não entendendo.

- Sim, renunciei ao cargo. O meu pai e a família do lado dele não gostavam do facto de uma princesa ter uma carreira, invés de ficar no palácio sem fazer nada. – disse com uma certa mágoa na voz. Claro que eu não me importei com o que eles diziam, aliás como nunca me importo com que os outros dizem de mim, mas à medida que fui subindo na carreira as coisas ficaram piores. Então o meu pai fez-me um ultimato. Ou deixava a minha carreira ou o meu título real. Já podem adivinhar o que eu escolhi! – disse-lhes piscando o olho.

- O teu próprio pai… - suspirou Bunny engolindo mais um bombom.

- Ele foi pressionado pelos políticos e pelos nobres. Mas mesmo assim… - suspirou triste- não foi capaz de defender a filha.

- E a tua mãe…? – perguntou Bunny começando a sentir um pouco de pena.

- Estou cheia de saudades dela… Foi obrigada a aceitar a decisão do meu pai, ele é que é o rei. Foi totalmente contra a decisão dele, e sempre me apoiou muito. De vez em quando vem-me visitar às escondidas! Penso que antes do concerto ela vem cá! – anunciou contente. Mas por favor, isto é estritamente confidencial, só vos disse porque parecem ser de confiança. – olhou para todas à espera de um sinal de concordância.

- Claro, confia em nós! – disse Joana contente com o voto de confiança levando a mão ao peito. Mas diz-me uma coisa, o teu apelido “Leça”, não é inglês verdade?

- Não, tens razão. É o apelido da minha mãe. Ela era plebeia. – disse sorrindo. O meu avô materno era libanês e a minha avó colombiana. Emigraram para Portugal e conheceram-se lá. Casaram e então nasceu a minha mãe. Mais tarde ela emigrou para Inglaterra e arranjou emprego como empregada do palácio. Depois conheceu o meu pai e o resto é história!

- É tão estranho estar em frente a ti! Estrela internacional e princesa… Parece tão irreal.... – disse Maria.

- Ex-princesa! – frisou  Célia. Eu tentava não dar importância ao meu título, caso contrário era famosa por ser a “princesa cantora” ou a “princesa actriz”. Nos meus primeiros castings escondi a minha identidade. E quando comecei a ter uma exposição mais pública fiz questão de frisar que não queria tratamentos especiais. Mas claro, os tablóides gostam sempre dessa combinação princesa/estrela famosa. Aqui no Japão não gostam muito da realeza ocidental, talvez por causa da segunda grande guerra, por isso não enfatizam muito esse meu lado. Mas no estrangeiro é demais. Sempre detestei ser princesa, não é o conto de fadas que todos pensam que é. Existem regras, não posso ser eu mesma, estava presa, tudo o que eu fazia tinha que ser muito bem pensado. Cansei-me… - disse fazendo uma pausa para ganhar o fôlego. Só para terem uma ideia o meu nome completo é Célia Catherine Christina Anne Elizabeth Charles Leça of Windsor!

- Uau… E eu que pensava que o meu nome era grande! – riu-se Maria.

- Bem, e que tal mudar de assunto? Uma piscinazinha ia bem agora, não? – disse entusiasmada.

- Depois de ter comido? E apesar de estar sol ainda não está assim tanto calor… -disse Rita apreensiva.

- Quanto ao frio tenho piscina interior aquecida, mas tens razão, acabamos de comer. Devemos esperar três horas. – disse desapontada olhando para o relógio.

- Oh vamos lá! Se tiver uma congestão o hospital é aqui perto! – disse Bunny louca por experimentar a piscina.

Todas concordaram, apesar de Rita ter feito uma cara aborrecida.

Subiram ao quarto novamente e vestiram biquínis e fatos de banho. De seguida desceram para uma divisão onde se encontrava uma grande piscina. Ligada a ela encontrava-se a piscina exterior, que era separada por uma parede de vidro, que nos dias de maior calor podia ser içada e dar ligação ao exterior da casa.

Todas se preparavam para entrar.

- Não tiras o colar? – reparou Bunny.

- Ele é… - disse Célia levando a mão até á medalha do colar – um objecto de grande valor sentimental para mim, não gosto de me separar dele.

O colar era constituído por minúsculas pedras brilhantes, que formavam o fio. A medalha era formada por uma meia-lua lateral com uma estrela de quatro pontas na extremidade da lua. Tanto a lua como a estrela eram constituídas por pedras preciosas de cristal amarelas e laranjas.

- É muito lindo. – disse Bunny olhando para ele. Posso ver?

À medida que as mãos de Bunny se aproximavam da medalha algo estranho aconteceu. O tempo ficou mais lento, Bunny sentia um calor imenso a invadir-lhe o corpo. Sentia a energia das navegantes, a energia da Terra, da lua, do Cristal Prateado. Estava quente por dentro, queria tocar naquela medalha, nada se iria meter no meio.

Célia ficou estática. Via sem reacção a mão de Bunny a aproximar-se mais e mais da medalha. A mão estava agora a uns escassos centímetros.

 

 

* - ler a fala da TV no capítulo nº 1


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