A Última Estrela

por Sammu

 

 


Capítulo 18: Come Play wiz me

 

Célia ficou estática. Via sem reacção a mão de Bunny a aproximar-se mais e mais da medalha. A mão estava agora a uns escassos centímetros.

 

O tempo estava lento, a mão de Bunny aproximava-se cada vez mais do colar com o intuito de lhe tocar. Bunny sentia-se estranha por dentro. Sentia uma energia reconfortante que já não sentia há muito tempo, a energia que três amigos em tempos emanavam.

Célia parecia paralisada, como que não esperando que Bunny fosse realmente tocar no colar. A medalha começou a vibrar levemente.

-NÃO! – gritou Célia com os olhos muito brilhantes protegendo a medalha com as duas mãos e dando um passo atrás.

Todas ficaram a olhar para ela apreensivas.

- De… desculpem. – disse-lhes Célia embaraçada. Este colar representa muito para mim, não gosto que ninguém lhe toque. Todas continuaram a olhar desconfiadas. É uma tara minha! – acrescentou rapidamente.

- Está bem… desculpa... – disse Bunny baixando a cabeça, sentindo-se envergonhada e um pouco zangada.

- Bem, vamos para a piscina? – disse Maria quebrando o silêncio constrangedor.

- Nem era preciso dizeres! – disse Joana subindo para a prancha e fazendo a posição de “bomba”. Atirou-se para a piscina e fez com que muita da água transbordasse.

- Joana… - disse Rita fora da piscina com os punhos cerrados, toda encharcada. Vais-te arrepender! – desafiou-a atirando-se também. Mergulho profundo!

- Toma uma ilusão de água brilhante! – disse Joana aparecendo debaixo de Rita fazendo-a cair de cabeça na água.

- As tuas amigas têm umas frases engraçadas. – reparou Célia.

- É..! – disse Maria embaraçada. Televisão a mais!

 

Todas se divertiram na piscina, excepto Bunny que não parava de pensar no sucedido.

Quando começou a anoitecer, as luzes do jardim foram-se ligando automaticamente. Era o jardim mais belo que tinham visto.

- E viva o luxo! – disse Joana divertida.

- Ops! Olhem as horas! – observou Bunny. Os meus pais já devem estar preocupados.

- É, é melhor voltarmos. O avô está sozinho, sabe-se lá o que anda a fazer. – disse Rita preocupada.

- Mas vamos como? O carro da Bunny ficou no templo. – disse Joana olhando para Célia com cara de inocente.

- Eu dou-vos boleia, claro! – ofereceu-se Célia percebendo a intenção de Joana.

- A sério?! Obrigada! – disse Joana fingindo-se surpreendida, já esperando aquela resposta.

- Podem ir vestir-se lá em cima no meu quarto, a vossa roupa está lá. – lembrou-as Célia saindo da sala.

Fechou a porta e encostou-se nela. Sorriu no escuro e subiu a escadaria. Caminhou pelo longo corredor até chegar ao fim. Encontrava-se diante de um quadro com a imagem da galáxia que enfeitava a parede. Retirou-o da parede e pôs a descoberto um marcador electrónico. Marcou o código 22061989 e colocou o seu olho num visor. Um feixe de luz verde leu a sua impressão ocular e a porta abriu-se pesadamente.

 

- O que foi isto? – arrepiou-se Bunny na sala da piscina, no piso de baixo.

- O quê? – perguntou Maria.

- Esta sensação esquisita. – disse confusa.

- Estás estranha hoje Bunny… Não sinto nada. – disse Joana.

- Ela… - disse Rita fechando os olhos. Tem razão, sinto uma aura estranha.

Saíram da sala da piscina.

 

Célia entrou pela porta que abrira. A sala não tinha janelas nem lâmpadas. No centro encontrava-se um pedestal vazio. Célia desapertou o fecho do seu colar e retirou a medalha. Fechou-a na sua mão e esta cresceu instantaneamente até atingir o tamanho da palma da sua mão. Abriu o medalhão que tinha a forma de uma meia-lua com uma estrela na ponta e imediatamente a sala se iluminou de uma luz branca intensa. Célia atira o medalhão para o ar e cruza as mãos sobre o seu corpo. O seu cabelo começa a esvoaçar violentamente. Uma luz branca envolve a silhueta de Célia.

- SEPARAÇÃO! – gritou desfazendo o cruzamento entre as mãos. Um clarão forte anunciou a separação de dois cristais e da medalha. Célia apanhou os cristais com a mão direita e a medalha com a esquerda.

A sala ficou iluminada de um amarelo-laranja e de um branco intenso. Aproximou-se do pedestal e colocou lá o medalhão. O topo do pedestal abriu-se e revelou outro dispositivo electrónico com dois baixos relevos. Colocou neles o Cristal Prateado e o Cristal de Ouro. Nesse momento uma onda de energia envolveu a casa e o jardim.

 

- O que se passa?! – gritou Bunny.

- Veio do piso de cima! – disse Rita correndo a escadaria.

- Eu continuo a não sentir nada! – disse Joana correndo juntamente.

- Já somos duas. -brincou Maria seguindo-as também.

 

O pedestal fechou-se, ocultando os cristais. Célia retirou rapidamente o medalhão que servira de chave ao pedestal e colocou-o no colar. Este diminuiu de tamanho novamente. Levou a mão à medalha.

- Mascara a minha identidade! – o medalhão libertou raios de energia que a envolveram. A sua aparência manteve-se igual, mas agora sabia que apenas a reconheceriam se ela própria revelasse a sua identidade.

Célia fechou a porta da sala rapidamente e recolocou o quadro na parede.

 

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – ouviu Bunny a gritar ao longe.

 

Correu rapidamente até ao corredor principal e viu uma figura negra que cercava as quatro amigas.

 

- Luna! Quieta! – ordenou Célia rispidamente. A cadela de imediato colocou a língua de fora e dirigiu-se a Célia. Estão bem?

- Luna?! Esse cão chama-se Luna? – perguntou Bunny ofegante.

- Sim sim! É uma cadela. Reparem aqui na testa, tem uns pelinhos brancos que fazem lembrar a lua. – disse Célia mostrando com orgulho a sua preta cadela labrador. Desculpem se ela vos assustou, devem-na ter acordado. Está treinada para me avisar de intrusos.

- Ah, sim… Nós perdemo-nos. – disse Rita rapidamente. Onde é que era o quarto mesmo?

- Duas portas atrás. – disse Célia com uma expressão neutra. Eu tenho a roupa que quero noutro quarto. Até já. – entrou na porta ao seu lado levando Luna.

 

- Que rapariga esquisita, já saiu da piscina há tanto tempo e ainda não mudou de roupa? – disse Bunny num tom zangado.

- Bunny! Ela acabou de nos proporcionar uma tarde super divertida e tu dizes isso? Nem parece teu! – ralhou Joana.

- A menina está zangada porque não pôde tocar no colar não é Bunnyzinha? – explicou Rita num tom de gozo.

 

Dirigiram-se ao quarto de Célia para se vestirem. Entraram.

- Foi bastante esquisito. Tanto alarido por causa de um colar. – observou Maria.

- Mas tu sabes como são os famosos, bastante excêntricos. – defendeu-a Joana.

- O que me interessa agora é descobrir de onde veio aquela onda de energia. – disse Rita pensativa enquanto se vestia.

- Eu não senti na… - começou Joana.

- Já sei que não sentiste nada! – interrompeu Rita. Eu senti porque tenho uma pré-disposição psíquica e já é normal estar alerta para este tipo de coisas. Agora, não sei como é que a Bunny também o sentiu.

- Por falar nisso, onde está ela? – perguntou Maria ao notar a ausência de Bunny.

- Estou aqui! – disse entrando rapidamente no quarto.

- Onde estiveste?

- Fui até ao fim do corredor. Tinhas dito que a onda de energia veio de lá, não foi Rita?

- Sim… E o que descobriste? – perguntou Rita curiosa.

- Nada de nada. Apenas tem lá um quadro.

- Estranho… Talvez tenha sido outra coisa qualquer. – disse Rita rendendo-se às evidências. Veste-te Bunny! É indelicado deixar os outros à espera.

 

Cinco minutos depois Célia bateu á porta.

 

- Estou pronta, desculpem a demora. Vamos para o carro?

- E que carro! – pensou Joana deliciada em andar outra vez no automóvel de luxo.

 

Desceram a escadaria e saíram da mansão. A noite estava agradável e ouviam-se os grilos e as fontes no jardim. Entraram no carro e os portões abriram-se.

- Espero que não se tenham assustado com o meu sistema de segurança. Ele tranca as janelas e as portas e activa os raios infravermelhos em caso de assalto. Activei-o quando saí da piscina. – disse enquanto conduzia.

- Ah, então foi isso… - pensou Rita.

- Claro que não nos assustamos com isso. Já aquela cadela podia-nos ter magoado e muito. – disse Bunny rispidamente.

Joana mandou-lhe uma joelhada no banco de trás.

- Bem, quem fica em casa primeiro? – perguntou Célia ignorando o comentário de Bunny.

- Eu posso ficar já, não é muito longe daqui. – disse Joana.

Dez minutos depois estavam a deixar Joana em casa.

- Estás entregue! – disse Célia parando o carro.

- Muito obrigado por tudo! Adorei esta tarde. – disse Joana excitada saindo do carro e abraçando Célia. Sou a tua fã número um! – gritou já à porta de casa.

- Tchau! – disseram todas.

 

A próxima foi Rita. Chegaram ao templo, que como sempre estava rodeado de jornalistas.

- Eu juro que qualquer dia… - disse Rita furiosa fechando o punho e exibindo perigosamente uma veia na sua testa.

- Isto é por causa da confusão no festival? – perguntou Célia interessada.

- Infelizmente é. – disse Rita cansada da situação.

- Com licença. – disse Célia saindo do veículo. Revela-me. – sussurrou tocando na medalha. Dirigiu-se ao portão do templo. Oh não! O meu templo favorito fechado! – disse fingindo-se surpreendida.

Após reconhecerem Célia uma montanha de flashes iluminou a noite.

- Célia, Célia! Conhece o templo Hikawa?

- O que tem a declarar quanto à sua alegada saída da linha sucessória ao trono?

- Célia, o que faz em Juuban?

- Está a par dos recentes eventos que envolvem este templo? – perguntaram euforicamente os jornalistas quase que atropelando Célia.

- Mas é claro que conheço o templo Hikawa! Sempre que venho ao Japão tenho que arranjar um tempinho para vir cá. Os extraordinários amuletos que aqui são vendidos são o último grito em Holliwood! – disse Célia fingindo-se eufórica. E aquele golpe publicitário durante o festival? D-I-V-I-N-O! – disse alto.

- Golpe publicitário? – perguntaram os jornalistas interessados.

- Mas é claro! Graças àqueles espectaculares… hã… efeitos visuais, a gerência do templo revelou uma inteligência sem par, visto que agora este acontecimento é falado um pouco por todo o país… e até no estrangeiro, o que torna o templo ainda mais conhecido!

Os jornalistas ficando satisfeitos pela explicação fotografaram Célia em frente ao portão do templo. Após a confusão Rita entrou e agradeceu muito a Célia, que sorriu e entrou no carro.

- Tens que fazer isso com o meu restaurante qualquer dia! – exclamou Maria impressionada com a táctica de Célia.

- Quando quiseres! – disse-lhe Célia deitando a língua de fora e apertando o cinto. Vamos para onde agora?

- Para o apartamento da Ma…- começou Bunny.

- Para o meu restaurante! – interrompeu Maria. Desculpa Bunny, deixei o Mário sozinho a tomar conta do negócio o dia todo, tenho que fechar as contas do dia antes de rir para casa.

- Ah… Tudo bem. –disse Bunny desagradada por mais um atraso.

- Eu deixo a Maria no restaurante e levo-te a casa. Não me custa nada.

Dito e feito, após deixar Maria no restaurante, Célia encontrava-se agora sozinha no carro com Bunny. Após uns minutos de silêncio em que só se ouvia o motor do carro, Célia quebrou o silêncio. Olha… -começou pensando bem nas palavras. Eu sei que exagerei há bocado, e é por isso… - disse desapertando o colar- que te vou deixar tocar na medalha. E peço desde já desculpa pela minha reacção exagerada.

- Tens a certeza? – disse Bunny já mais animada.

- Força. – disse entregando o colar nas mãos de Bunny. Esta pegou nele, mas já não sentia a sensação esquisita que sentira à um pouco atrás.

- É muito lindo… E estas pedras na lua e na estrela? – perguntou olhando para aquele estranho brilho.

- As da lua são pequenos diamantes alaranjados. As da estrela são pedras um pouco mais especiais.

- Especiais?

- São pedras preciosas cósmicas.

- Cósmicas? - perguntou mais confusa.

- Um meteoro caiu em Inglaterra à um par de séculos. O seu núcleo era feito dessas pedras, que foram mantidas no cofre real durante anos. Então peguei nelas e mandei fazer essa medalhinha. – explicou sorrindo-lhe. É aqui?

- Sim. -disse Bunny saindo do carro e devolvendo o colar. Encontravam-se em frente ao prédio de Maria. Obrigada por tudo! – disse Bunny amavelmente.

- Até manhã! – respondeu Célia.

- Adeus! – replicou Bunny sorrindo.

Bunny estava a entrar na porta do prédio.

- Bunny? – chamou-a Célia.

- Sim? – respondeu voltando-se para trás.

- Nada… Nada, esquece! Boa noite. – disse Célia arrancando o carro e conduzindo pela estrada deserta.

Bunny entrou no apartamento onde foi fortemente abraçada pelos pais. Caiu a noite profunda, a última das noites normais que se aproximavam.


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