A Última Estrela

por Sammu

 

 


Capítulo 19: Come back to me

 

-“As temperaturas desceram cerca de 0,2 ºC em todo o mundo. Apesar da pouca diminuição, este fenómeno estranho aconteceu uniformemente por todas as regiões do globo. Será este um sinal da regressão do tão falado Efeito Estufa? Tudo indica que sim, apesar de a camada de ozono ainda não se regenerar à velocidade de antigamente. Continuando este fenómeno podemos prever uma recuperação em 37% ao ano da camada de ozono. De volta ao estúdio…” – dizia a meteorologista na TV.

- Dexde que num fique frio nu Berãum tudo bem pra mim! – dizia Chico no sofá com a boca empanturrada de bolachas de chocolate. A televisão desligou-se. Ei! – reclamou Chico virando-se para trás.

- A tua irmã? – perguntou Fernanda, a mãe de Bunny com o comando na não.

- Saíu logo de manhãzinha cedo. – respondeu Chico. Estava a ver TV e deu uma noticia qualquer, ficou esquisita e saiu de casa.

- Que estranho, num sábado? Ai… O que estará ela a tramar? – suspirou Fernanda roubando o pacote de bolachas e sentando-se ao lado de Chico e mudando para o canal de moda.

 

Bunny caminhava com Luna na rua sob um sol tímido. Estava determinada a tirar tudo a limpo. Porque tivera Bertierite aquela reacção quando Bunny lhe disse que tinha sido atacada por Esmeralda?*

Luna caminhava apressadamente para acompanhar o passo de Bunny.

- Chegamos Luna. – anunciou Bunny parando em frente a um luxuoso prédio. Tocou no botão da moderna campainha que dizia “Ayakashi Sisters”.

- Sim? – perguntou uma voz adoentada pela campainha.

- Karmesite? É a Bunny. Preciso muito de falar convosco.

- Bunny? – ouviu-se Karmesite a perguntar. Desculpa mas hoje não é um bom dia, adeus.

- Karmesite! – exaltou-se Bunny. Sabes que se não me deixares entrar eu arranjo maneira de falar com vocês na mesma!

Após uns momentos de silêncio a porta abriu-se. Bunny apanhou o elevador transparente até ao último piso, onde as irmãs tinham um luxuoso duplex.

O edifício tinha a forma de O. No seu centro circular encontrava-se um belo jardim com uma cascata artificial que culminava numa grande piscina. Saiu do elevador e dirigiu-se para a porta do apartamento das irmãs.

- Miau! –chamou Luna a atenção de Bunny.

- Também sentes? Esta aura pesada… - disse Bunny parando em frente à porta. Mas tenho que entrar. – bateu à porta, e reparou que já estava aberta.

Entrou no apartamento escuro devido às persianas das janelas que estavam fechadas, bloqueando a luz do sol.

- Aqui. – chamou Bertierite.

Karmesite, com os seus exuberantes cabelos roxos e Bertierite encontravam-se sentados no divã da sala com ligaduras na testa. Bunny cumprimentou-as e sentou-se. Luna tinha o pêlo arrepiado e rondava o apartamento.

- Que se passa com vocês? – perguntou Bunny olhando para as ligaduras brancas.

Bertierite começou a chorar e Karmesite respondeu.

- São tantas coisas juntas… Nem sei por onde começar.

- Eu…. Vi a notícia à pouco na televisão. – disse Bunny lembrando-se das palavras que o pivô pronunciou no jornal matinal:

“Os cosméticos Ayakashi Sisters foram retirados do mercado devido à concentração absurda de químicos cancerígenos, que levaram à formação de melanomas e carcinomas em diversas pessoas por todo o Japão.”

- Eles não são cancerígenos. – fungou Bertierite chorosa. Foi a Esmeralda.

- A Esmeralda?! – exclamou Bunny interessada. Ela também vos atacou? Por favor expliquem-me bem essa história toda!

- Foi assim… - começou Karmesite. Tudo começou à cerca de um ano. Começamos a ter pesadelos frequentemente, calafrios, noites sem dormir. Tudo começou gradualmente mas foi aumentando ao longo das semanas. Tudo isto deveria debilitar os nossos organismos, mas não foi isso que aconteceu. Estávamos cada vez mais fortes. Mais ainda do que quando éramos da Lua Negra.

- Até aí tudo bem, fora isso não tinha acontecido mais nada de especial. – continuou Bertierite. Até há alguns meses. As nossas testas começaram a arder ao ponto de nos provocar uma dor intensa. E pouco depois…

- Apareceu a Esmeralda. – falou Karmesite. Apareceu de repente aqui na sala, vinda do nada. Disse que o nosso clã havia sido revivido e que nos queria de volta apesar de os termos traído.

- Claro que dissemos que não. – continuou Bertierite ansiosa por falar. Então foi aí que ela nos ameaçou. Disse que tinha o Safira como refém e se não aceitássemos ele iria sofrer as consequências. Como sabes a Petzite nunca esqueceu o Safira… Por isso aceitou passar para o lado deles.

Bunny ficou estupefacta, mas não pôde deixar de compreender o lado de Petzite, a irmã mais velha. Sempre amara Safira secretamente.

- A Esmeralda disse que mais cedo ou mais tarde todas nós iríamos acabar por aceitar passar para o lado dela. Nem que fosse contra a nossa vontade.

- Como assim? E porque não nos avisaram antes? – perguntou Bunny triste com a falta de confiança delas.

- Calma, ouve-nos até ao fim. – pediu Karmesite a Bunny.

- Depois da Petzite ter aceite, a Esmeralda ameaçou-nos novamente. Caso disséssemos alguma coisa, a nossa irmã sofreria as consequências. Por isso já sabes, foi por isso que não te disse nada. – confessou Bertierite.

- Depois lançou-nos uma espécie de maldição. – continuou Karmesite. Já nos destruiu financeiramente e socialmente. A nossa empresa faliu e temos centenas de processos em tribunal contra nós. Mas isso nem é o pior. Vem cá. – pediu Karmesite a Bunny.

Bunny foi guiada até a um quarto escuro com as janelas todas tapadas. Karmesite ligou uma luz fraca.

Na cama encontrava-se Calaverite a dormir, completamente suada e despenteada. Estava a dormir um sono inquieto, mexendo-se constantemente. Na sua testa encontrava-se um símbolo, uma lua negra invertida com uma estrela de quatro pontas no meio.

- Não! – exclamou Bunny tapando a boca com a mão. O que se passa com ela?!

- Ela está a sofrer a transformação. – disse Karmesite de braços cruzados com um olhar triste fixo na irmã. Uma por uma, a Esmeralda está a forçar-nos a voltar. E da maneira mais baixa. Ela está a sofrer…

- Então vocês…? – perguntou Bunny chocada.

Bertierite e Karmesite retiraram as suas ligaduras. Nas suas testas como uma ligeira queimadura, encontrava-se o mesmo símbolo quase imperceptível, embora o de Bertierite estivesse mais carregado.

- Começaram a ficar mais fortes depois de a Esmeralda ter roubado o Cristal Prateado. Nós pensávamos que conseguirias guardar o Cristal como sempre fizeste, por isso quando me contaste na universidade o que se passou eu saí da aula e vim contar ás minhas irmãs imediatamente.

- Vai embora Bunny. – disse Karmesite num tom sério. Vai embora daqui e não voltes mais. Da próxima vez que nos vires podemos já não ser nós.

- Eu não vos posso deixar… Tenho que vos ajudar, são minhas amigas e os amigos não se deixam assim… - disse lentamente com um nó na garganta.

- A única coisa que podes fazer é destruir o inimigo. Assim as nossas vidas poderiam voltar ao normal.- disse Bertierite com uma réstia de esperança.

- Mas cuidado. Pelo que percebi a Esmeralda não passa de uma simples subordinada. Este inimigo tem uma força como nunca vi. São capazes de tudo. De TUDO! Até de matar sem dó nem piedade se for preciso. – disse mais uma vez Karmesite com um ar assustado. Agora vai. Tem cuidado…

- Adeus Bunny… - despediu-se Bertierite com um ar triste.

- Não desistam, nós vamos conseguir. Aguentem até lá…! – prometeu Bunny saindo do apartamento com Luna.

- Bunny? – chamou Bertierite.

Bunny parou e olhou para trás.

- Sim?

- Perdoa-me caso te faça alguma coisa, mas lembra-te. Não sou eu. – disse sorrindo com uma lágrima varrendo-lhe o rosto.

Bunny deu-lhe as mãos e no silêncio reconfortou-a. Ao mesmo tempo disse o seu adeus silencioso. Estava certa de que iria conseguir derrotar aquele inimigo que já lhe roubara Gonçalo, destruíra a sua casa, o templo de Rita, o Cristal Prateado, e que agora lhe roubava lentamente a sua amiga da forma mais cobarde.

 

Caminhava pelas ruas da cidade, em direcção ao templo. Como Célia a tinha levado a casa, o seu carro ainda lá estava estacionado devido ao treino surpresa do dia anterior.

- Bunny! Luna! Por aqui? – ouviu-se uma voz vinda do chão.

- Artemis! – Bunny retirou-se para um beco com Artemis e Luna. Lá contou tudo o que ouvira.

- Incrível… - disse Artemis preocupado.

- Miau… - pareceu concordar Luna.

- Coitadinha, a Luna ainda não consegue falar… E não sei porquê. Se fosse do Cristal Prateado tu também não poderias falar e no entanto… - suspirou Bunny abaixando-se para fazer festas à sua gata.

- É verdade… E logo ela que nunca foi de estar calada. - disse Artemis olhando para Luna.

De repente uma luz iluminou a mente de Bunny. Esta levantou-se repentinamente, o que fez com que Luna caísse em cima de Artemis.

- Quando eu purifiquei as Irmãs da Caça há anos atrás, usei o Cristal Prateado. Elas livraram-se do poder negro porque o poder do Cristal existia nos corpos delas, protegendo-as. Quando a Esmeralda me roubou o Cristal Prateado, foi capaz de quebrar essa protecção e fazer-lhes a lavagem cerebral. – disse olhando fixamente para o ar à sua frente.

- Bunny tu… - interrompeu Artemis.

- Não me interrompas enquanto estou a raciocinar! – repreendeu Bunny. Quer dizer que ela ainda não consegue trabalhar bem com o Cristal, caso contrário já elas estariam todas do lado negro. A purificação que eu lhes dei ainda corre um pouco nos seus corpos… Mas eu vi aquela guerreira misteriosa com o meu Cristal Prateado. Como é possível se é a Esmeralda que o tem? Isso quer dizer…

- Mas Bunny… - falou novamente Artemis.

- Cala-te! Isso quer dizer… - respirou fundo. Que a guerreira trabalha para o lado negro! Não… não pode ser, se ela já nos salvou mais do que uma vez… Talvez seja só para nos enganar ou aborrecer a sua possível rival, a Esmeralda. É isso… Não podemos confiar nela! – disse orgulhosa do seu raciocínio. O que querias Artemis?

- Calcaste cocó de cão quando te levantaste. – disse divertido vendo o sapato de Bunny castanho.

 

Artemis e Luna foram passear juntos e Bunny continuou o seu caminho. Ao caminhar olhou para o prédio “Maison” onde se encontrava o apartamento de Gonçalo. Apesar de ter estado nos EUA a estudar, manteve sempre o seu apartamento em Tóquio. Bunny olhou pensativa para as janelas do apartamento.

Sentiu um aperto no coração. Uma luz estava acesa. Teria Gonçalo voltado?

Correu em direcção à entrada do edifício. O porteiro já a conhecia e deixou-a passar. À medida que se aproximava do apartamento o seu coração batia mais rápido. Levou a mão à maçaneta da porta e abriu-a rapidamente.

 

* - rever o capítulo 8: An Unexpectable Surprise


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