A Última Estrela

por Sammu

 

 


Capítulo 20: O abraço da desilusão

 

À medida que se aproximava do apartamento o seu coração batia mais rápido. Levou a mão à maçaneta da porta e abriu-a rapidamente.

 

Gonçalo encontrava-se no sofá da sala, que estava completamente desarrumada. Objectos partidos, almofadas rasgadas, o LCD rachado no chão e as cortinas desfeitas. Gonçalo estava deitado no sofá com um pano molhado sobre uma ligadura que tinha na testa.

 

- Gonçalo! – exclamou Bunny correndo para perto dele. Não queria acreditar que Gonçalo estava finalmente à sua frente, era um sonho maravilhoso. Oh, meu amor! Que te fizeram? – perguntou chorando sobre o seu peito.

 - Bunny… – disse Gonçalo numa voz rouca levando a sua mão fria para a cabeça de Bunny. Consegui libertar-me de Esmeralda. Foi horrível, nunca mais deixarei que nos separem. Amo-te, e foi esse amor que me deu forças para voltar. – sussurrou com os olhos brilhantes fazendo carícias no cabelo de Bunny.

- Gonçalo… - suspirou ainda chorando, comovida com a prova de amor. Tocou na sua mão e reparou que estava fria. Vem, vou colocar-te na cama, estás gelado.

 

 Colocou o seu braço nos ombros de Gonçalo e levou-o até à cama. Gonçalo caiu nela pesadamente e puxou Bunny para cima de si, beijando-a. Bunny sorriu e abraçou-o, envolvendo nos seus braços a sua razão de viver. Gonçalo beijava-lhe o pescoço avidamente. Bunny levava a mão aos cabelos pretos de Gonçalo em movimentos intensos. Entre os toques, a ligadura moveu-se um pouco e Bunny vislumbrou algo na sua testa. Gonçalo voltou a colocar a ligadura no sítio.

- Que ferida é ess…

Antes de acabar a frase Gonçalo impulsionou-a para baixo de si e deitou-se sobre ela, tirando a sua camisa e abrindo a blusa de Bunny, beijando o seu corpo, fingindo não a ouvir. As suas carícias estavam cada vez mais brutas, mas Bunny, envolvida em paixão e curiosidade não conseguia abstrair-se do ferimento de Gonçalo. Num movimento súbito arrancou-lhe a ligadura.

 

O mundo de Bunny desmoronou-se naquele momento. Tudo ficou negro à sua volta e ficou sem fôlego. Não era possível, não poderia ser verdade!

No centro da testa de Gonçalo encontrava-se a marca negra do seu novo inimigo.

A cara de Gonçalo assumiu proporções sombrias.

- Tinhas que estragar tudo… - disse Gonçalo friamente.

Agarrou a cara de Bunny e beijou-a à força. Estava imobilizada pelos braços de Gonçalo. Lembrando-se de algumas técnicas de auto-defesa que Maria lhe havia ensinado, dobrou o joelho e impulsionou-o contra a barriga de Gonçalo. Este soltou um uivo de dor e Bunny conseguiu escapar.

- Não pode ser… não é verdade! – pensou enquanto apertava a blusa e procurava desesperadamente o alfinete de transformação nos seus bolsos, mas este não estava lá.

Em cima da cama, Gonçalo riu-se. Abriu a sua mão. No interior estava o alfinete que havia roubado do bolso de Bunny.

Não houve diálogo, Bunny simplesmente não conseguia enfrentar aquela realidade. Fugiu do quarto e correu para a saída. Abriu a porta. À sua frente encontrava-se Neflite, um dos quatro generais do Reino das Trevas, a bloquear a saída.

 

- Desculpe princesa, temos que seguir as ordens do príncipe Endymion. Por muito erradas que estejam… - disse tristemente segurando Bunny.

Gonçalo veio de seguida e transformou-se em Endymion.

- Tão ingénua, tão parva. Vens para aqui sozinha sem saber o que te espera e cais direitinha na nossa cilada. Pena teres descoberto tudo tão cedo, podia… - disse sorrindo cruelmente dirigindo-se a Bunny e passando a mão pelos contornos dos seios- podia ter-me divertido um bocado. E acredita que te ias divertir também… - sussurrou-lhe aos ouvidos.

- Nojento! – gritou Bunny sentindo-se mais vulnerável que nunca. O verdadeiro Gonçalo nunca faria isto!

- Verdadeiro? És mais estúpida do que pensei. E olha que é preciso ser muito estúpida para dar o Cristal Prateado e perder o alfinete de transformação. Eu sou o verdadeiro Endymion.

- Não acredito, prova-o! – gritou Bunny imobilizada nos braços de Neflite.

- Esse anel que tens… - disse apontando para o anel em forma de flor no dedo anelar de Bunny. Fui eu que to dei há cinco anos no aeroporto quando parti para os Estados Unidos estudar, como símbolo do nosso amor e como promessa que voltaria um dia.

Bunny estava despedaçada. Era verdade, foi nesse dia que se despediu ternamente de Gonçalo e viu as Starlights pela primeira vez no aeroporto, acabada de entrar no secundário. Só ela e Gonçalo sabiam o significado do anel.

- E pensar que esta coisinha te transforma… - disse pegando no alfinete.

Tentou esmaga-lo, mas as suas mãos começaram a queimar. Ouviu-se um grito de dor e o alfinete caiu ao chão. As mãos de Endymion exibiam queimaduras da forma do alfinete.

- Mestre! – gritou Neflite soltando Bunny por momentos.

Esta aproveitou para fugir do apartamento. Enquanto corria pelo corredor, tentava encontrar o intercomunicador atrapalhada pelas lágrimas que escorriam abundantemente pela cara. Não o encontrou, tinha-o deixado em casa. Tentou então encontrar o telemóvel. Sentiu uma dor forte na barriga e foi projectada com toda a força contra a parede.


© Os textos são propriedade dos autores e qualquer reprodução destes deve ser consentida por eles, para tal, basta carregar no nome dos autores que se encontra depois do título da fic.